…uma história de solidariedade…

 

roti

¨Eu tinha uns amigos assim, eram muito prestativos e solidários, eu os conhecia do trabalho, as vezes me convidavam para sair e eu aceitava…com o tempo, fui me tornando mais próximo deles, nunca tive nenhuma religião séria além da formação cristã familiar na infância, não tinha tempo para essas coisas de deus, minha jornada dupla de trabalho que me garantiam a conquista dos meus sonhos materiais já me consolavam a alma na hora de dormir, além do que uma vida cordata e pacífica, eu acreditava, como a minha já me garantiriam qualquer paraíso, caso algum existisse após a morte…um dia me chamaram para um jantar, alguém cozinharia um “camarão na moranga com catupiry” como esse prato era um dos que mais gostava aceitei o convite e naquela noite uma agradável companhia me foi apresentada, ficamos íntimos e algum tempo mais tarde fomos viver juntos…essa companhia me levou a adentrar naquele grupo de amigos em comuns que agora faziam parte da minha vida também…gente pacata, sem muitos arroubos, gente comum mesmo, quis tê-los como amigos íntimos pois estava muito afeiçoado a minha companhia íntima que fazia o maior gosto por essa aproximação…assim, dentro de todas as coisas que fazíamos juntos, como viagens para o litoral nos feriados, aniversário desse ou daquele amigo, tinha o trabalho social deles, alguns se diziam espíritas e vez ou outra falavam sobre essa doutrina…não os incentivava pois não me interessava esse assunto mas os respeitava…gostava porém do trabalho social que eles faziam nas madrugadas distribuindo sopa para mendigos no centro da cidade…mas eles nunca me convidavam para isso embora eu sempre me colocasse a disposição…numas férias em que não pude viajar por motivo de saúde, quis ajudá-los nesse serviço e de tanto insistir lá fui eu despejar sopa nas garrafas pet cortadas para os mendigos, me senti tão bem com essa atitude solidária que até questionei minha espiritualidade relapsa…comecei a participar constantemente e até me oferecia para comprar alimentos do meu próprio bolso e ajudar a fazer a sopa que deveria dar trabalho devido a quantidade, mas me rejeitavam na hora de cozinhar, só meu dinheiro aceitavam…um dia comecei a achar estranho alguns comentários e atitudes de alguns membros do grupo e desconfiado passei a olhar melhor aquela situação…logo pensei “deve ser corrupção”… sabia do envolvimento de alguns vereadores de um partido trabalhista que doavam alimentos e combustível para as Kombis brancas que levavam a sopa ao encontro dos mendigos no centro da cidade nas madrugadas frias… um dia esqueci minhas chaves sem querer numa delas e só quando cheguei em casa pude notar esse equívoco, sozinho, pois sempre me dispensavam antes do final onde os organizadores se reuniam para resolver as questões prioritárias dessa empreitada com minha companhia intima que também fazia parte desse grupo, voltei para onde eles sempre se reuniam em busca dos meus chaveiros…não liguei pois não era longe de onde estava e já me sentia muito íntimo para isso, ao chegar porém não percebi a presença de ninguém a porta e só quando ia fazer uma ligação para averiguar onde estavam notei um barulho nos fundos…com um sentimento estranho me lancei naquela direção sem fazer alarde como que por pressentimento, pensei que iria ver alguma cena de traição da minha companhia tamanha era a tensão que sentia…mas ao olhar pela fresta de uma janela lateral antes de me anunciar vi o impensável…mais ou menos três corpos nus no chão ensaguentado, já parcialmente desmembrados entre eles um senhor que eu o havia servido naquela noite…as forças me faltaram, minhas pernas enrijeceram e custei a entender naquele um segundo que permaneci ali, o que de fato acontecia…o resto pude avaliar com minhas memórias na volta desesperada para casa em silêncio e pavor absoluto…era assim que mantinham o trabalho solidário…logo me veio a mente o “molho roti” com pimenta rosa que minha companhia íntima, ‘metre gourmet’ de um badalado restaurante da cidade as vezes me servia com olhos brilhantes de felicidade…tive dificuldade em me desligar desse grupo e dessa pessoa sem denunciar o que eu sabia deles…fiquei muito tempo enjoado e até relativizei alguns problemas de saúde á minha alimentação caseira de sobras de comidas daquele caro e badalado restaurante ante as pilhérias de minha companhia íntima que dizia que estômagos de pessoas comuns se ressentiam de iguarias finas reservadas a um público tão “específico”…há muito abandonei o consumo de proteína animal na minha dieta e ainda hoje tenho pesadelos com essas pessoas e a cena macabra que me persegue a anos…evito passar pelo centro da cidade nas madrugadas na volta de alguma festa, show ou boate para não vê-los pois eles ainda continuam até hoje prestando esse importante e solidário trabalho social.”

(N.do R. extraído de um depoimento anônimo obtido nas insones madrugadas frequentando sites de bate papo!!!,-) #Uurghhh